terça-feira, 26 de maio de 2015

Por Osvaldo Rodrigues da Veiga: Contestar ou não contestar, eis a questão

Por: Osvaldo Rodrigues da Veiga (3ª05-RG2015)


Contestar ou não contestar, eis a questão


Há muito tempo, no norte de Santa Catarina, quando os sertanejos nem pensavam em entrar na faculdade, uma empresa americana veio construir a estrada de ferro que ligaria Rio Grande do Sul a São Paulo. A obra andou em ritmo de estádio de copa e, depois de longos anos, foi concluída.


Até aí tudo beleza, mas o governo que não era aquele sonhado pelo povo, tentou dar aquele calote na empresa que não ficou nada feliz da vida. Após intensas negociações, o governo decidiu ceder o equivalente a 15.000 metros de terras, que se estendiam ao longo da ferrovia e deveriam ser colonizados pelos povos estrangeiros.


Mas nossa amiga empresa pensou "para que eu vou colonizar uma área com tantos recursos naturais, em vez de explorá-la?”. E assim se fez, ao lado da ferrovia, uma madeireira americana; eles fizeram a Marina Silva e o Greenpeace se remexer no caixão antes mesmo de existirem. Mas havia um problema, já haviam pessoas morando por lá. Eles não tinham carros, não tinham teto, e se ficar por ali, já sabe, né?...


Daí em diante foi só tiro, porrada e bomba. De um lado a multinacional, querendo tomar as terras, e do outro os sertanejos, querendo manter-se onde já estavam. As investidas contra as resistências eram fortes, mas os sertanejos eram todos “cabra macho”, não arredavam o pé.
Os conflitos estavam cada vez mais intensos, quando uma figura ressurgiu para dar esperanças aos sertanejos: um monge que eles acreditavam ser o mesmo que vagou pela região 20 anos antes, que eles acreditavam ser o que vagou 40 anos antes. Há boatos de que isso aconteceu por que nosso monge 3 em 1 utilizava-se das ervas e das coisas que a natureza dá para curar e deixar a rave mais louca, assim como fizeram os outros dois.
A partir daí as batalhas ficaram mais elaboradas, o monge era apelão e sempre chegava mais louco que o Gandalf montado em um Unipandra, liderando os sertanejos e usando seu cajado desnecessariamente grande, sem dó nem piedade.
A empresa, que estava de saco cheio de apanhar pros donos do banhado, foi pedir ajuda ao governo que, como quem não quer nada, mandou o bonde todo para auxiliar os americanos malvados em sua cruzada opressora em busca do lucro burguês patriarcal capitalista machista fascista neonazista.
Os sertanejos que agora viviam de sua arte das coisas que a natureza dá, liderados pelo monge hippie, se encontraram em maus lençóis. Afinal, como era possível combater um grande exército com armas, aviões, armas e tudo mais, utilizando apenas as flores e a paz ?
Pelo que se seguiu, não era nada possível, o exército estava ganhando uma batalha após a outra, eles avançavam com a fúria de mil africanos correndo do Ebola, e a resistência estava se tornando inútil.
Em um dia como qualquer outro, com muito sangue e morte, o monge veio a ser pego fora de posição. Era um monge que como eu, tinha cabelo de mendigo; girava o mundo, mas acabou fazendo a guerra do Contestado. Cabelos longos não usa mais, não ouve mais suas rezas e sim, um instrumento que sempre dá a mesma nota “ratátátá”. Não vê amigos, não vê garotas, só gente morta caindo ao chão, ao seu cajado não voltará, pois está morto no Contestado.
Os sertanejos lutaram bravamente, sem seu monge, até o último homem cair ao chão, tudo isso para que um americano pudesse tomar um whisky 12 years em sua mansão em Washington. A vida não é justa e, às vezes, o destino é incontestável.

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom :) Parabéns ... (achei engraçada a parte do "lucro burguês patriarcal capitalista machista fascista neonazista" hehe)

Maicon disse...

Excelente texto, muito interessante e criativo.