segunda-feira, 27 de abril de 2015

Relato da Guerra do Contestado

Escola de Ensino Médio Professor  Roberto Grant
Professora: Elizete Mainardes Appel
Disciplina: Língua Portuguesa e Literatura
Série: 3ª06
Atividade: Escrever um Conto, Crônica ou Narrativa abordando tema Contestado


Por: 
Andressa Kaisekamp, 
Bianca Milnitz, 
Hannah Baum de Souza, 
Julia Voltolini,
Louise Nazário Bueno Franco e 
Stefany Samara de Lima.

Eu, Maria Sebastiana tinha apenas 8 anos, morava com meus pais e mais 6 irmãos em uma pequena cidade de Santa Catarina chamada Irani. Lembro que naquela época meu pai contava que havia uma disputa de um pedação de terra entre Paraná e Santa Catarina, a gente não entendia bem, mas sabia que era pra ficar esperto e ter cuidado com gente estranha.
Eram tempos difíceis para as crianças. Todos os dias quando amanhecia, eu, como irmã mais velha, ajudava minha mãe na roça, enquanto meu pai trabalhava na construção da tal estrada de ferro, e depois, na madeireira. No tempo que meu pai trabalhou lá, a gente tinha remédio de vidrinho quando ficava doente e ia na igreja.  Mas o que a gente mais gostava era o cinema, com aquele pano branco bem grande e as pessoas dos filmes, grandes também. No começo a mãe ficou com medo e não queria deixa a gente ir, daí o pai falou que era besteira dela e que os patrões também iam. Era maravilhoso, não me cansava de ir. Os adultos falavam que a estrada de ferro e a madeireira iam ser uma grande coisa, que o trem ia fazer crescer a cidade, mas nada disso aconteceu, só trouxe coisas ruins.
Certo dia, quando voltava pra casa à noitinha, encontrei minha mãe choramingando na varanda. Os vizinhos e peões da fazenda do coronel passaram avisando que uma guerra ia acontecer. Não tardou muito e apareceram uns homens dizendo que tínhamos apenas três dias para sair da nossa casa. Meu pai, furioso pelo ocorrido, saiu pra fora de casa e gritava que ninguém ia tirar as terras dele. Nunca me esqueço dessa cena. Como minha mãe tava muito nervosa fui preparar a janta para o resto da família, não sabia o que nos aguardava, como seria o dia de amanhã ou até mesmo se essa seria nossa última refeição.
No dia seguinte, quando levantei, papai já tinha saído pra tentar resolver a questão. Mas chegou em casa sem notícias boas. Papai sabia que, assim como muitas famílias, ele iria perder suas terras ficando sem ter onde morar e nem como sustentar sua família.
Dias se passaram e os homens voltaram armados até os dentes. Tivemos que sair correndo, fugindo pelo mato adentro pra se salvar.  Após muito tempo andando, com fome, chegamos a Canoinhas, onde encontramos um grupo de pessoas seguidores do Monge José Maria, um curandeiro que todo mundo dizia ser um homem santo.
 
Ficamos com eles passando os dias e as noites pois o pai não podia mais trabalhar na madeireira e todo mundo contava que a guerra tava feia. Soldados matavam os sertanejos que não queriam sair de suas terras. Os fazendeiros também queriam mais terras e matavam quem não saísse. De um lado quem tinha armas, do outro os homens simples lutando com espadas de madeira.
Uns tempos depois ficamos sabendo que os coronéis da região mandaram soldados do exército para acabar com o movimento daquele monge, tendo sido assim a morte daquele que era uma pessoa tão boa.
A construção da tal estrada de ferro parou, a madeireira tomou conta de tudo. E pra mandá os caboclos  embora, trouxe até uns tal de pistoleiro de outro lugar que se vem de navio. Dizem que esses caçavam as pessoas como bichos.
Vivemos assim até 1916 porque as tropas de soldados acabaram com tudo. Meu pai e 2 irmãos morreram. 2 ou 3 anos depois, minha mãe também se foi por causa da saúde, por não ter remédio pra tomar e comer pouco.

Hoje moro em Caçador, cidade de muita gente bonita que se construiu com pessoas que sobreviveram a essa triste guerra. As lembranças ainda me atormentam durante os dias, depois de me casar fui abençoada com 2 filhas e 5 netos e ver a família que construí nos últimos anos é o que me mantém viva e com muita alegria.