Carta publicada no Jornal AGazeta do dia 24 de
outubro 2011
Eu
trabalho no centro da cidade, e da minha janela tenho uma vista privilegiada.
Mas nem tudo o que eu vejo, é tão bonito quanto eu gostaria: já tive o
desprazer de ver viciados se drogando naquele beco sujo que fica atrás da Banca
Gibi. Outro dia, eram ainda 9 horas da manhã e dois indivíduos comercializavam
e faziam uso de crack. Chamamos a polícia, mas infelizmente nada aconteceu.
Mais recentemente,
no dia 5 de outubro, logo depois das 17 horas, eu vi duas garotas vestidas com
o uniformes do Colégio Roberto Grant, fazendo um cigarro de maconha e depois
dividindo aquela porcaria como se fosse a oitava maravilha do mundo.
Com
certeza, eu tenho muito mais o que fazer do que ficar vigiando o comportamento
dos filhos dos outros. Tanto que logo em seguida sai com meu carro, para
resolver meus problemas. Mas, por extrema coincidência, encontrei as mesmas
duas meninas na esquina. Eu ali, esperando para entrar na via principal, e elas
paradas junto ao carro, para atravessar a mesma rua.
Tive
alguns instantes para observar as duas. Olhei para seus rostos, duas lindas
meninas de seus 16 anos talvez, pele perfeita, cabelos escuros brilhantes,
saudáveis por conta dos bons tratos proporcionados pelos pais. Duas garotas
trajando uniformes de um colégio muito bom, no qual meus próprios filhos
estudaram e forma muitíssimo bem tratados.
Um colégio
que poderia ser muito melhor, não fosse a presença de alguns estudantes
corrompidos pela doença das drogas que vem se alastrando pela sociedade. E não
pensem que isto não existe em todos os colégios!
Enquanto
eu observava, elas riam, segurando-se uma à outra, como as duas perfeitas
idiotas que demonstraram ser no instante que resolveram experimentar a droga.
Parti em meu carro, com um peso enorme em meu coração. Deixei para trás as duas
e seus destinos incertos. Conseguia apenas pensar nos pais e nas mães delas,
que em algum lugar da cidade, com certeza estavam trabalhando, pensando talvez
que suas filhas estariam vindo da escola, com algum grau a mais de
conhecimento.
Se os
conhecesse, poderia dizer: “Sim, suas filhas aprenderam hoje alguma coisa a
mais. Hoje elas aprenderam como se desvalorizar.” Que pena, que pena. Como foi
dolorido ver duas moças tão saudáveis jogando fora sua saúde, que é seu bem
mais precioso, apenas para dar o dinheiro, ganho com esforço pelos pais delas,
para um traficante.
A vocês
duas Meninas-sem-nome: hoje à tarde quando o professor de História ou de
Química estiver falando e vocês estiverem ansiosas para sair, sem ao menos
ouvir o que ele diz, lembrem-se disso. Lembrem-se do que espera vocês além de
um beco sujo, atrás da banca de revistas. Vocês se encontram ainda no início de
uma escada espiral descendente: o primeiro degrau foram as más companhias, o
segundo foi a bebida, e agora a maconha. Outros virão, nesta descida
vertiginosa: a promiscuidade, disfarçada de “ficar” (não se enganem, garotas),
a gravidez indesejada, e enfim as outras drogas mais pesadas para anestesiar a
dor e a depressão.
Torço para
que eu esteja enganada; para que esta tenho sido apenas a primeira vez
que se drogaram; embora não acredite nesta possibilidade, pela habilidade
demonstrada pela menina que usava a jaqueta cinza quando manipulava o cigarro
de maconha.
Torço,
então, para que seja a última vez, gostaria tanto que seus pais jamais soubessem
o que fizeram! E que um dia destes vocês se tornassem o que eles imaginaram que
vocês seriam, quando nasceram: muito mais que apenas garotas bonitas (porque
beleza acaba um dia, ainda mais depressa para quem usa drogas), mas pessoas de
bem, saudáveis e produtivas.
Talvez eu
esteja redondamente enganada e vocês nem tenham os pais amorosos que eu
imaginei, talvez sejam filhas de mães solteiras e drogadas como vocês
serão um dia. Quem sabe vocês estão apenas reproduzindo um padrão. Mas isso não
seria desculpa, seria? Vocês têm sua vida, saúde perfeita, escola e até
dinheiro… pelo menos o suficiente para comprar drogas.
É provável
que vocês jamais leiam estas palavras, porque já provaram que não têm
inteligência suficiente para muita coisa, e ler jornais como certeza não deve
ser uma das suas atividades preferidas. Devem passar horas no Orkut, Facebook,
ou assistindo ao BBB, ao Pânico, ou curtindo as últimas fofocas sobre as
“celebridades”…
Talvez sua
geração não tenha aprendido o suficiente sobre moral, sobre ética, sobre
educação; talvez tenham sido bombardeadas o tempo todo pelas imagens de
mulheres e homens promíscuos na TV, onde Xuxa e suas seguidoras, as
mulheres-fruta, “heroínas e heróis” de hoje são capazes de vender o corpo e a
alma pelo menor preço… Cadê as pessoas de valor e caráter nos programas
televisivos?
Ou talvez
os pais deixem aquilo que era sua obrigação, como dar formação de caráter, nas mãos das apresentadoras de programas
“infantis”, que vendem coisas absolutamente dispensáveis aos nossos filhos, ou
nos ombros da escola, como se a escola fosse um terreiro de milagres.
Alguns
dirão que a escola tem sua parcela de culpa, que o governo tem que fazer isso
ou aquilo, que a polícia é assim ou assado. Mas a verdade é que nada substitui
uma boa convivência e diálogo entre pais e filhos. Isso vocês não tiveram o
suficiente, com certeza.
Que pena…
vocês estão jogando fora as suas vidas em troca de absolutamente nada. Acham-se
espertas, fazendo um cigarrinho de maconha escondidas atrás da mochila que sua
mãe comprou, numa mesinha imunda, num beco sujo ao lado de um banheiro público
fedido.
Quanto
vale a vida de vocês? Que se importa com o que vocês fazem ou sentem? Somente seus pais, pensem nisso. Eles dariam a vida
deles pelas suas, um milhão de vezes. Já o criminoso que ficou com seu
dinheiro, este nem liga para vocês; há muitas outras bobas que podem enganar.
E quando
eu encontrar vocês novamente na rua, talvez não as reconheça mais, porque
ficarão cada dia mais feias, sujas e vulgares. Como o beco onde vocês se
drogam.